Acessibilidade: como os deficientes visuais manejam o dinheiro
O manuseio e a organização de cédulas é um trabalho complicado. Não é à toa que a maioria das pessoas opte pelo uso do cartão na hora de efetuar um pagamento ou realizar uma transação bancária. Tais afirmações podem servir como um gatilho para a análise de uma situação um tanto quanto controversa, geralmente enfrentada pelos deficientes visuais do Brasil. De acordo com dados de pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil abriga mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão. Tais informações nos alerta sobre um crescente problema que envolve esta ampla camada da população brasileira: a acessibilidade dos deficientes visuais em relação ao dinheiro.
Como os países fazem
Os países da União Europeia adotaram um modelo diferenciado para a identificação das cédulas. Lá, o tamanho das notas varia de acordo com o valor em questão. Além disso, o portador de deficiência visual recebe um gabarito em braile que indica o valor de cada nota. Após a aquisição desse recurso, o usuário pode inserir a cédula no gabarito, que irá apontar o valor correspondente. Essa alternativa é direcionada àqueles que não decoraram o tamanho das notas ou que ainda não se acostumaram com o tipo de moeda.
No Brasil, foram feitas algumas adaptações. As moedas, por exemplo, carregam algumas inconsistências nas bordas, colocadas com o propósito de serem identificadas pelo tato. Por outro lado, as cédulas da segunda família (segunda geração de moedas brasileiras) têm marcas de revelo, mas, como as notas desbotam com mais facilidade, o relevo acaba se perdendo em meio ao processo.
Banco Central
Em 2013, o Banco Central do Brasil lançou as últimas cédulas da Segunda Família do Real, que possuem dimensões diferentes e dificultam o processo de falsificação. Mesmo com essas mudanças, o processo de reconhecimento das notas permanece dificultoso, visto que os relevos, apesar de serem mais altos, continuam sendo ineficazes para a tateação. Outra barreira estrutural, normalmente enfrentada pelos deficientes visuais, é a presença das cédulas antigas no circuito monetário, que freiam o transcurso de capacitação dos necessitados.
Apesar de o braile ser tida como uma linguagem universal dos deficientes visuais, sua incursão no sistema de cédulas pode ser inviável, pois a propensão ao desgaste em um curto espaço de tempo é muito grande. É importante notar que o braile é lido por muitos cegos, mas não por todos, o que é um segundo ponto a ser considerado ao pensar na inserção desse recurso nas notas.
Com base em dados do site do Banco Central do Brasil, as novas moedas apresentam tamanhos característicos, variando de acordo com o valor. A nota de 2 reais, por exemplo, conta com 6,5cm de altura e 12,1cm de comprimento; a nota de 100 reais tem 7 cm de altura e 15,6 cm de comprimento. Apesar desses meios de diferenciação, acredita-se que a melhor forma de instruir os deficientes visuais é por meio de cursos de capacitação. O principal intuito de tal instrumento de ensino é o de apresentar 2 notas diferente, visando o descobrimento de um padrão, o que facilitaria o manuseio por parte dos cegos.
Segundo o chefe do departamento do Meio Circulante, João Sidney, o modelo mais viável, e que deveria entrar em vigor, é o utilizado pelo Canadá. No quesito de acessibilidade aos deficientes visuais, o país norte-americano utiliza uma tinta invisível nas cédulas que atua em conjunto com um aparelho, utilizado para reconhecer o valor das notas e emitir um sinal sonoro. Nos Estados Unidos, os deficientes visuais utilizam um método bem prático para organizar o dinheiro. Como é mostrado num vídeo da Washington State School for the Blind (Escola Estadual para Cegos de Washington), os deficientes visuais separam o dinheiro por dobraduras. Por exemplo, a nota de 1 dólar não é dobrada, enquanto que a nota de 5 dólares é dobrado ao meio, e a nota de 10 dólares é dobrada no sentido da altura, formando um retângulo.